terça-feira, 3 de maio de 2011

Cultura inútil da terça #12

Respondendo a charada da semana passada:
Quem canta a música: ♪Eu vou, eu vou, pra casa, agora eu vou ♫ ?
A resposta correta é: São os seis anões, porque o Dunga é mudo.
Palmas para o Lost, ele acertou. =D


Uma das leitoras deste blog chegou a afirmar em comentários que a série de tópicos de cultura inútil é sua favorita, ela também sugeriu que eu postasse sobre os sete livros do Harry Potter.
Outra leitora sugeriu que eu postasse sobre os sete dons do espírito santo.
Não acatarei nenhuma das duas sugestões para esta semana. Sou fã da série Harry Potter, deixarei para falar sobre o tema nas vésperas da estréia do último filme.


Já foram abordados temas de conhecimento global nesta série de postagens, para esta semana eu resolvi ser bairrista. O tema da semana não foge à regra dos sete:


As Sete Quedas
Na 6ª série tive a matéria de história do Paraná, lembro do professor ( se não me engano o nome dele é Paulo Fabris) contando de quando a ponte caiu, e do quão belas eram as sete quedas.










As sete quedas se situavam em Guaíra, há poucos quilômetros de distância aqui de Toledo, era a maior cachoeira do mundo, em volume d'água. 
Apesar do nome, eram constituídas por 19 cachoeiras principais, sendo agrupadas em sete grupos de quedas. Recordistas mundiais em volume d'água, as Sete Quedas eram o principal atrativo turístico de Guaíra, cidade que, à época, chegou a ter 60 mil habitantes, rivalizando em importância com as cataratas de Foz do Iguaçu. À época, Guaíra era um dos destinos brasileiros mais visitados por estrangeiros. Atualmente, a população da cidade (que já foi uma cidade da nobreza espanhola) é inferior a 30 mil habitantes.

Com o fim da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, ocorreu uma super visitação ao parque nacional das sete quedas. Milhares de pessoas, de todas as partes do Brasil e do mundo, iam a Guaíra para presenciar os últimos dias das Sete Quedas. Devido à superlotação, em 17 de Janeiro de 1982 ocorreu a queda da ponte Presidente Roosevelt, que dava acesso ao salto 19, tendo como consequência a morte de 32 pessoas. No entanto, 6 pessoas sobreviveram, salvas por pescadores de Guaíra. A investigação apontou para uma dupla causa: primeiro, a falta de cuidado com a manutenção das pontes sob a presunção de que em breve as Sete Quedas seriam inundadas; e depois, o aumento descontrolado da visitação, pois todos queriam ver os saltos antes de seu desaparecimento para a formação do lago de Itaipu.
Às vésperas da inundação, uma grande manifestação ocorreu no parque nacional das Sete Quedas. Centenas de pessoas se reuniram e realizaram o ritual indígena Quarup, em memória das Sete Quedas.
Em 13 de outubro de 1982, o fechamento das comportas do Canal de Desvio de Itaipu começou a sepultar, com as águas barrentas do lago artificial, um dos maiores espetáculos da face da Terra: as Sete Quedas do Rio Paraná ou "Saltos del Guaíra".
Durante a inundação, os moradores de Guaíra iam até a beira do rio para se despedirem das Sete Quedas. Foi uma época muito triste, segundo pessoas que viveram esta tragédia de perto.
A inundação das Sete Quedas durou apenas 14 dias, pois ocorreu em uma época de cheia do rio Paraná, e todas as usinas hidrelétricas acima de Itaipu abriram suas comportas, contribuindo com o rápido enchimento do lago.
Portanto, em 27 de outubro de 1982 o lago estava formado e as quedas, submersas. Nos dias seguintes ao alagamento, apenas as copas das árvores ficavam acima do nível do rio, uma cena um tanto deprimente, pois pareciam "mãos pedindo socorro".





Em 1982, às vésperas dos 80 anos, o poeta Carlos Drummond de Andrade expressou sua inconformidade com a destruição do Salto de Sete Quedas, um patrimônio natural do Brasil e da humanidade.
Na edição de 9 de setembro, quando afinal se anunciava o fechamento das comportas para a criação do lago da hidrelétrica de Itaipu, Drummond publicou este poema no Jornal do Brasil. Em letras grandes, os versos ocuparam uma página inteira, a capa do Caderno B:
Cquote1.svgSete quedas por mim passaram, e todas sete se esvaíram.
Cessa o estrondo das cachoeiras, e com ele a memória dos índios, pulverizada, já não desperta o mínimo arrepio.
Aos mortos espanhóis, aos mortos bandeirantes, aos apagados fogos de Ciudad Real de Guaira vão juntar-se os sete fantasmas das águas assassinadas por mão do homem, dono do planeta. Aqui outrora retumbaram vozes da natureza imaginosa, fértil em teatrais encenações de sonhos aos homens ofertadas sem contrato.
Uma beleza-em-si, fantástico desenhocorporizado em cachões e bulcões de aéreo contorno mostrava-se, despia-se, doava-se em livre coito à humana vista extasiada. Toda a arquitetura, toda a engenhariade remotos egípcios e assírios em vão ousariam criar tal monumento.
E desfaz-se por ingrata intervenção de tecnocratas. Aqui sete visões, sete esculturas de líquido perfil dissolvem-se entre cálculos computadorizados de um país que vai deixando de ser humano para tornar-se empresa gélida, mais nada.
Faz-se do movimento uma represa, da agitação faz-se um silêncio empresarial, de hidrelétrico projeto. Vamos oferecer todo o conforto que luz e força tarifadas geram à custa de outro bem que não tem preço nem resgate, empobrecendo a vida na feroz ilusão de enriquecê-la.
Sete boiadas de água, sete touros brancos, de bilhões de touros brancos integrados, afundam-se em lagoa, e no vazio que forma alguma ocupará, que restas e não da natureza a dor sem gesto, a calada censura e a maldição que o tempo irá trazendo?
Vinde povos estranhos, vinde irmãos brasileiros de todos os semblantes, vinde ver e guardar não mais a obra de arte natural hoje cartão-postal a cores, melancólico, mas seu espectro ainda rorejante de irisadas pérolas de espuma e raiva, passando, circunvoando, entre pontes pênseis destruídas e o inútil pranto das coisas, sem acordar nenhum remorso, nenhuma culpa ardente e confessada.
(“Assumimos a responsabilidade! Estamos construindo o Brasil grande!”)
E patati patati patatá... Sete quedas por nós passaram, e não soubemos, ah, não soubemos amá-las, e todas sete foram mortas, e todas sete somem no ar, sete fantasmas, sete crimes dos vivos golpeando a vida que nunca mais renascerá.
Cquote2.svg
Carlos Drummond de Andrade



8 comentários:

  1. Mto interessante o tema de hoje..
    Me fez lembrar as historias que meus pais contavam, de que eles estavam nesta ponte uma semana antes do acidente...

    Mas então..
    minha sugestão para próxima terça é:
    Sete Deuses da Sorte (cultura japonesa)

    Ass.: Leitora do blog ;)

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  2. Gosteeei .-.

    Muito interessante e lindo .-.
    E brigada pelo Harry Potter
    Estarei ansiosa pelo cultura inutil e pelo filme xD

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  3. Brunão, tu sabes que eu penso um pouco como esse poeta que tu citastes ( CARALHO PORTUGUÊS PRA QUE TE QUERO ). Logo, fiquei triste ao ler teu post, continuo a pensar, antes ter nascido na época mais pobre deste país, porque ainda assim a cultura se fazia mais bonita que a de hoje, os ensinamentos reinavam sobre o dinheiro, pobre era ainda como hoje, pobre. Mas tinha belezas mais bonitas que nenhum rico encontraria pelo mundo inteiro u.u

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  4. interessante sete quedas eu tenho 10 anos e quero fazer feira de ciencias na minha escola alguem me ajuda

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  5. copiou do wikipedia tudo ne malandro

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  6. Muito bom seu texto. Sou guairense e vivi toda esta tristeza causada, não por culpa do progresso, mas por interesses políticos grandiosos...somente uma colocação: esta última foto não é das Setes Quedas, mas sim das CATARATAS DO IGUAÇÚ, de Foz do Iguaçu....um dos motivos pelo desaparecimento das nossas quedas foi justamente este outro ponto turístico (Cataratas)pq os políticos poderosos investiram em redes de hotéis em Foz, mas Guaíra tinha uma visitação muito maior, então como havia uma maneira possível, eles acabaram com a concorrência...simples assim? não, há muitos outros motivos para o q foi feito mas deixa pra lá, nada que dissermos vai trazer SETE QUEDAS de volta, infelizmente.Gostei da sua iniciativa, precisamos passar esta história adiante para que a população fique sabendo e não se cale.
    Parabéns!

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  7. Muy interesante nota! Lo unico que quiero subrayar es que los "Saltos del Guaira" o, "Sete Quedas" eran COMPARTIDAS por Brasil y PARAGUAY. Cosa que no se menciona en el texto, dando a entender que eran exclusivamente brasileñas.

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Piázada que escreve nessa bagaça: